sexta-feira, 1 de junho de 2012

Teoria Psicossocial de Erikson


Erikson enquanto professor teve a oportunidade de se relacionar com a família Freud. Foi através da teoria psicossexual de Freud que Erikson iniciou a psicanálise e com quem ganhou o gosto pelo estudo da infância, mas rejeitou o facto de se explicar a personalidade apenas com base na sexualidade.  Acredita na importância da infância para o desenvolvimento da personalidade mas, ao contrário de Freud, acredita que a personalidade se continua a desenvolver para além dos 5 anos de idade. Foi após concluir a sua formação como psicanalista que emigrou para os Estados Unidos iniciando a sua prática da psicanálise infantil. Foi neste momento que Erikson começa a preocupar-se com o estudo da forma como o ego ou a consciência operam de forma criativa em indivíduos considerados sãos. Erikson iniciou os seus estudos sobre influências culturais no desenvolvimento psicológico, apresentando a seguinte teoria:
Para Erikson o papel do meio social e cultural é fundamental na formação da personalidade do indivíduo. Na sua opinião a energia que orienta o desenvolvimento não é psicossexual mas psicossocial, defende uma respectiva psicodinâmica que valoriza a interação entre o meio social e a personalidade.
Erikson considera que o desenvolvimento decorre desde o nascimento através de oito estádios psicossociais que se prolongam durante todo o ciclo de vida. Em cada uma dessas fases as pessoas experimentam diferentes conflitos que resolvidos de forma positiva resultam em equilíbrio e saúde mental, mas se resolvidas de forma negativa conduzem ao desajustamento e ao sentimento de fracasso.

Os oito estádios de Erikson

1º Estádio (0-18 meses) Confiança/Desconfiança
Este estádio é marcado pela relação que o bébe estabelece com a sua mãe. Se a relação é compensadora, a criança sente-se segura. A crise deste estádio ocorre entre o bebe e a mãe.
Positivo – sentimento de confiança em relação aos outros e ao meio.
Negativo – suspeita, medo e insegurança relativamente aos outros e ao meio.
Virtude resultante desta crise – Esperança.

2º Estádio (18 meses – 2 anos) Autonomia /Vergonha e Dúvida
A criança está apta a explorar ativamente o meio que a rodeia. Se for encorajada, desenvolve autonomia e autossuficiência. Se for muito protegida e controlada, desenvolve um sentimento de dependência, de vergonha em se expor e duvida das suas capacidades de desenvolver atividades sozinha. Depende da aprovação das outras pessoas.
Positivo – sentimento de autossuficiência
Negativo – Falta de independência.
Virtude resultante desta crise – força de vontade.


3º Estádio (3 – 6 anos) Iniciativa/Culpa
As crianças tomam iniciativas e desenvolvem as suas atividades sentindo grande prazer quando obtém sucesso. Se não conseguem o desenvolvimento das suas iniciativas pela repressão ou punição, a criança sente-se culpada por desejar comportar-se segundo os seus desejos.
Positivo – capacidade para iniciar ações.
Negativo – sentimentos de culpabilização pelo que faz e pelo que pensa.
Virtude – tenacidade

4º Estádio (6-12 anos) Industria/inferioridade
Na nossa cultura predominam as atividades escolares neste estádio. Se a criança corresponde ao que lhe é exigido então desenvolve nela sentimentos de autoestima de competência (industria). Se a criança se sente incapaz de atingir com sucesso as atividades escolares quando os seus companheiros o exigem, pode desenvolver um sentimento de inferioridade.
Positivo - desenvolvimento do sentido de competência.
Negativo - falta do sentido de competência.
Virtude – competência.

5º Estádio (12-18/20 anos) Identidade/Confusão de identidade
A construção da identidade é a tarefa fundamental deste estádio. A identidade constrói-se através da experimentação de vários papeis possíveis, o que vai permitir ao adolescente reconhecer-se como pessoa única e distinta de todos papeis que pode ou quer desempenhar, experimenta uma confusão de identidade e de papeis.
Positivo – formação de uma identidade pessoal, reconhecimento de papeis a seguir.
Negativo – incapacidade de definir papeis a seguir.
Virtude – fidelidade a si próprio

6º Estádio (18/20-30/35 anos) Intimidade/ Isolamento
O jovem adulto vive o conflito de intimidade/isolamento. Com uma identidade já construída o adulto constrói relações de amizade, de afeto com outros. Geralmente procura uma relação de intimidade com outra pessoa que pode envolver um relacionamento sexual. Se não o consegue pode isolar-se distanciando-se dos outros.
Positivo – desenvolvimento de relações de intimidade.
Negativo – receio de estabelecer relações com os outros, evitando compromissos.
Virtude – Filiação

7º Estádio (30/35-60 anos) Generatividade/Estagnação
Nesta idade o adulto vive o conflito que se pode traduzir nas seguintes questões: Será que faço alguma coisa que tenha realmente valor? Será que sou um bom profissional? Serei um bom pai/mãe? Há uma grande vontade de tornar o mundo melhor, de transmitir aos mais jovens valores e propostas num processo de um compromisso social.
Positivo – contributo como membro ativo da sociedade, desenvolvimento de interesses e atividades produtivas.
Negativo – centração em si próprio, desinteresse pelos outros.
Virtude – Ajuda aos outros.

8º Estádio (a partir dos 60 anos) Integridade/Desespero
O individuo avalia a sua vida podendo experimentar sentimentos de satisfação ou fracasso. O sentimento de integridade ocorre de uma avaliação positiva da sua vida e da impossibilidade de começar tudo de novo.
Positivo – sentimento de realização face ao passado.
Negativo – sentimento de que se perderam oportunidades importantes.
Virtude – Sabedoria.

Podemos concluir a partir destes estádios, que o professor de educação física precisa respeitar as etapas de desenvolvimento humano e os seus planeamentos de aula deverão corresponder e adequar-se a estas etapas, focando sempre o domínio motor.
Deve ter-se sempre em atenção as capacidades motoras de cada criança e não exigir em demasia destas. Deve sempre ser dada a oportunidade de experimentar e executar sem correr o risco da crítica ou exclusão por parte do meio onde se insere (neste caso a sua turma). Não devem, por exemplo, crianças ser excluídas e substituídas por não serem tão hábeis, quando se trata de crianças que ainda não possuem habilidades motoras “maduras”. São momentos de elevada importância para elas, momentos que podem gerar grandes conflitos interiores e consequentes recalcamentos. Pode vir a ser eventualmente um adulto sedentário, com dificuldades em encarar o exercício por medo de falhar, porque “não é tão bom como os outros”. É desta forma muito importante enquanto educadores/treinadores termos muito respeito por estas crianças e adequar da melhor forma possível o nosso método de ensino para o tornar abrangente e adaptado a todos os nossos alunos.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A teoria de Kohlberg


Hoje viemos publicar no nosso blog a teoria de Kohlberg. Kohlberg ocupa um lugar importantíssimo no campo do desenvolvimento moral graças ao seu caráter inovador.
                Os seus estudos permitiram-lhe chegar a conclusão que há tendências etárias quanto ao uso de tipos de raciocínio moral estando cada um deles subdivididos em dois estádios. Para simplificar esse estudo fizemos este quadro com uma informação sucinta:
Nível
Estádio
Nome
Caraterização
Moralidade Pré-Convencional
1
Orientação para a punição a obediência
Ponto de vista egocêntrico; evita-se infringir regras que acarretem punições; decide-se o que esta certo ou errado com base nas suas consequências.

2
Individualismo e troca instrumental
Orientação egoísta; ação correta é aquela que satisfaz as necessidades do individuo; devem-se fazer coisas aos outros se os outros retribuírem o favor.
Moralidade Convencional
3
Expectativas interpessoais mútuas, relacionamento e conformidade interpessoal
Orientação para a aprovação e para agradar os outros; o objetivo é ser considerado uma “boa pessoa”; preocupa-se com o que os outros pensam e com as suas necessidades; procura cumprir as regras e as normas.

4
Sistema e consciência social, manutenção da lei e da ordem
Obediência as leis e respeito pela autoridade; realização dos deveres não tanto pela punição, mas sim com o objetivo de manter a ordem social; as leis e regras proporcionam estabilidade e coerência.
Moralidade Pós-Convencional
5
Contrato social ou direitos democraticamente aceites
Preocupação para com o bem estar dos outros; admitem que as leis e normas emergem de um consenso e podem ser alteradas; a escolha moral é baseada nos direitos básicos; um maior bem para um maior número.

6
Princípios éticos universais
O comportamento moral é controlado por um ideal interiorizado, independentemente das reações dos outros; são raras as pessoas neste estádio.
Exemplo:
Um professor na aula de educação física pede a um aluno que o ajude a transportar material, o João voluntaria-se, mas sem querer tropeça e bate com o material num grande vidro partindo-o. O Pedro enquanto isto começa a brincar com uma bola sem pedir autorização e sem querer parte também um pequeno vidro de uma janela.
1.       Os dois devem ser punidos?
2.       Quem deveria ser mais punido?
- Uma criança no nível de moralidade pré-convencional diria que os dois devem ser punidos porque fizeram algo errado, e o João deveria ser mais punido porque partiu um vidro maior.
- Uma criança no nível de moralidade convencional diria que apenas o Pedro é que deveria ser punido, pois o João estava a realizar uma boa ação.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

As duas tópicas do psiquismo humano

   A grande novidade de Freud é a apresentação do inconsciente como o aspecto mais significativo, considerando residir nele a explicação da mente e das condutas humanas. Freud idealizou assim duas teorias, que explicariam a composição do psiquismo humano, formulou a primeira tópica conhecida como Teoria Topográfica, e posteriormente apresentou a segunda tópica conhecida como Teoria Estrutural. 
   Na primeira tópica de Freud, o aparelho psíquico é composto por três sistemas: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente. 
   O consciente inclui tudo aquilo de que estamos cientes num dado momento. Recebe ao mesmo tempo, as informações do mundo exterior e as vindas do interior. É constituído por noções, imagens e lembranças que a pessoa é capaz de voluntariamente evocar e controlar segundo as suas necessidades, os seus desejos ou as suas exigências sociais. 
   O pré-consciente funciona como uma espécie de peneira que selecciona aquilo que pode, ou não, passar para o consciente. O pré-consciente seria uma parte do inconsciente que pode tornar-se consciente com relativa facilidade. A sua função é impedir a manifestação de pulsões socialmente inaceitáveis, ocorrendo o recalcamento (processo normal e indispensável ao equilíbrio psicológico e social do indivíduo). 
   O inconsciente é a região obscura do psiquismo é aqui que estão os principais determinantes da personalidade, as fontes da energia psíquica e as pulsões ou instintos, muitos deles de natureza sexual e socialmente inaceitáveis, possuem um dinamismo próprio cujo papel na determinação do comportamento humano é superior aos dos fenómenos conscientes. 

   Na segunda tópica, Freud estabeleceu um conjunto de elementos que têm funções específicas, porém que interagem permanentemente e se influenciam reciprocamente. Consistia numa divisão da mente em três instâncias psíquicas: o id, o ego e o superego
   O id é uma componente básica e primitiva, totalmente inconsciente, que actua segundo o princípio do prazer. De natureza biológica e instintiva, desenvolve impulsos ligados a fome e á sede, á sexualidade e á agressão, e que, apesar de condenados pela sociedade lhe permitem a sobrevivência individual e a continuidade da espécie. É a partir do id que se desenvolvem as outras duas instâncias. 
    O superego forma-se por volta dos seis anos, através da interiorização dos valores, das regras e das proibições impostas inicialmente pelos pais e depois pela sociedade em geral. Em oposição ao id, o superego é de natureza social e moral, representando a componente ideal da personalidade humana. Actuando também a nível inconsciente, esta instância é uma espécie de guardiã moral, tendo por função impedir a manifestação das pulsões socialmente inaceitáveis, recalcando-as. 
   O ego nasce com o impacto entre o id e os factos reais que o impedem de obter o prazer de modo imediato. Opera de acordo com o princípio da realidade, o ego modera a impulsividade do id. Torna-se uma espécie de mediadora entre as solicitações do id e as exigências exteriores apresentadas pelo superego. De natureza consciente, o ego é uma estrutura racional, é a instância executiva da personalidade. Selecciona então as situações a que a pessoa deve responder, controla as acções e decide como as necessidades e desejos podem ser satisfeitos. 

Curiosidade acerca do pensamento consciente e inconsciente 
O Robot Interior 
   Facto: os atletas olímpicos deixam o bloco de partido um décimo de segundo depois de a pistola ter disparado. Eles não ouvem o disparo conscientemente, pois é necessário praticamente o dobro do tempo para se tomar consciência de estímulos sensoriais. Experiências efectuadas a bordo da nave espacial Columbia em 1998 demonstraram como é difícil sobrepor o pensamento consciente ao procedimento inconsciente. Os astronautas da nave atiravam bolas uns aos outros e tentavam apanhá-las, uma tarefa muito fácil na Terra, mas muito difícil em condições de baixo nível de gravidade, em que as bolas se movem muito mais devagar. Os astronautas viam claramente as bolas aproximarem-se deles e, como é normal, antecipavam a trajectória delas. Contudo, as suas mãos moviam-se muito mais depressa do que era necessário e chegavam ao sítio certo muito antes de a bola o alcançar. A explicação para tal facto é que o gesto de apanhar a bola é controlado por módulos inconscientes do cérebro e que esses módulos foram programados em condições de gravidade normal. Quando utilizados de forma indevida no ambiente de baixo nível de gravidade a bordo da nave, provocam erros na avaliação do movimento necessário. As experiências também nos dizem qualquer coisa de surpreendente acerca das aptidões dos grandes jogadores de pingue-pongue ou de ténis. A opinião mais largamente difundida é a de que esses jogadores têm reflexos ultra-rápidos, que lhes permitem atingir com a raqueta na bola que se desloque a bastante mais de 160Km/h. Na realidade, os seus reflexos são muitas vezes perfeitamente comuns; o que distingue um desportista experiente é a capacidade de retardar a reacção inconsciente durante uma fracção de segundo. Ao ter mais tempo para o processamento inconsciente, a reacção intuitiva torna-se assim muito mais precisa.